Dois artigos publicados na última quinta-feira, (24), em uma das principais revistas científicas do mundo, a Revista Science, revelam que 10% dos casos graves da COVID-19 são causados por ataques autoimune, ou seja, nestes pacientes o corpo produziu anticorpos que atacaram o próprio sistema imunológico e não o vírus. O resultado faz parte da pesquisa conduzida pelo Covid Human Genetic, projeto mundial que tem a participação de dois brasileiros na diretoria internacional, Dra. Carolina Prando, docente-pesquisadora da FPP no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente, e Antonio Condino Neto, da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com o estudo em 10,2% dos pacientes afetados pela forma grave do COVID-19 os pesquisadores identificaram anticorpos que atacaram e neutralizaram o Interferon tipo I do próprio paciente, fazendo com que as células expostas ao plasma dos pacientes não conseguissem evitar o ataque do novo Coronavírus. Os Interforons tipo I contribuem para a primeira linha de defesa antiviral, eles lançam uma resposta local imediata e intensa quando um vírus invade uma célula, fazendo com que as células infectadas produzam proteínas que atacam o vírus.
Ainda de acordo coma publicação esses casos são mais frequentes em pacientes do sexo masculino: 12,5% dos pacientes que desenvolveram casos agudos tiveram a condição agravada pelo próprio sistema imunológico, enquanto 2,6% das mulheres apresentam a mesma condição.
Já a outra publicação revela que outros 3,5%, pelo menos, dos pacientes carregam um tipo específico de mutação genética, o que afeta a resposta imunológica. “O estudo busca compreender fatores genéticos, individuais ou populacionais, que definem porque uma pessoa tem COVID-19 grave e pode até morrer por esta doença, enquanto outros têm sintomas leves ou, mesmo expostos ao vírus, não desenvolvem a doença. Sabemos de alguns fatores de risco para maior gravidade da doença (idade, obesidade, diabetes, hipertensão), mas isso não explica a totalidade das formas de manifestação da COVID-19”, explica Carolina.
A pesquisa
Os pesquisadores examinaram amostras de sangue de mais de 650 pacientes que foram hospitalizados por pneumonia com risco de morte devido à infecção pelo SARS-CoV-2 (14% morreram). Os resultados publicados na Revista Science referem-se a amostras coletadas na Europa, Ásia, América Latina e Oriente Médio. As amostras brasileiras serão incluídas posteriormente.
Com a publicação dos estudos, agora os pesquisadores se preparam para dar início aos ensaios clínicos, que devem indicar possíveis intervenções terapêuticas para combater os resultados divulgados.
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